segunda-feira, 9 de junho de 2008

Ouvidoria

Colocando... (4)

Vida de produtor é triste. Ainda mais quando o apresentador produzido não colabora. Na curta experiência que pude ter em nobre ofício, convivi com pessoas muito inteligentes, jornalística e emocionalmente. Mas sempre tem aquelas figuras menos humildes, adeptas de submeter o produtor a técnicas de tortura mental.

Na minha ex-firma, tem um grande repórter que, quando começou, produzia um certo programa, cujo âncora era um cara conhecido por pautar suas relações de trabalho de modo, digamos assim, arrogante, estúpido e boçal. O tal produtor, a cada dia, recebia as habituais chibatadas desferidas pelo chicote do presunçoso carrasco, que, via de regra, não sabia resolver um problema de forma civilizada e, o que é mais importante, educada. Pedir desculpa, então, nem pensar.

Infelizmente, nem todo mundo sabe ser humano. Mas isso é outra história. O que interessa aqui é que, certa vez, o produtor em questão não tinha quem colocar no ar. O apresentador havia lhe pedido pra encontrar alguém que pudesse dar entrevista sobre uma dada pauta. Determinado, lá foi ele pra milagrosa agenda da produção – sem ela, a firma não vai pra frente. O programa já estava em curso. E, após tentar as únicas fontes possíveis e não conseguir falar com nenhuma delas, disse pro apresentador: “Fulano, ninguém atende o telefone. Pra quem mais eu posso ligar?”.

Primeiro, teve que receber gratuitamente os mais gentis impropérios e palavrões. Depois, ouviu uma oportuna e cabível sugestão: “Sei lá, porra. Tu que é o produtor. Se não achar ninguém, bota a tua mãe no ar”. Era tudo que ele queria ouvir naquele momento. Desesperado, não sabia mais o que fazer. Então, após pensar um pouco, resolveu dar um tapa de luva no apresentador. Tirou o telefone do gancho, discou um número que sabia de cabeça e, em resposta ao “alô” vindo do outro lado, falou: “Mãe, sou eu. Vou te botar no ar aqui na rádio. Mas se ninguém te chamar, não fala nada”. E pediu pro operador levar a ligação ao ar.

Com a naturalidade de quem chuta o balde, pegou um papel, escreveu alguma coisa e o espalmou no vidro do aquário. No improvisado cartaz, apenas os dizeres “Minha mãe”. Claro que o apresentador não conversou no ar com a respeitável senhora, que nada tinha a ver com a história, mas pôde sentir, ainda que brevemente, o gosto de ser sacaneado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito booom!
E sabe que, nesse nosso mundinho jornalístico, grande parte das "estrelas" não se rende a um bom dia sequer!

Não entendo como podem ser assim!

Anônimo disse...

que história!!! Bah, já fui produtora de TV... e acho que o jogo dos egos é o mesmo. Muito ouvi desaforos e esfreguei na cara do apresentador que ele estava errado! hehehe Mas, fazer o que né? Esses aí vão existir sempre, infelizmente...

Mas, óh Douglas, gostei da dica!! :)