E o Brito chutou o balde
Um dos poucos caras de rádio que admiro é o Cláudio Brito. Do incisivo analista jurídico ao apaixonado narrador de Carnaval, ele mantém um estilo que, seja qual for a área que seguir, pretendo usar como norte. Não parece falso, sabe como poucos fazer do rádio um veículo mais emotivo e menos técnico e possui uma eloqüência consolidada, firme, e não baseada em cacoetes mecânicos. Presumo que essa oratória venha dos tempos de promotor de Justiça, cargo que ocupou por certo período. Mas o Brito, quando menos se esperava, não quis mais engolir sapo. Encheu o saco. E fez do microfone uma metralhadora giratória.
Em abril de 2007, no momento em que as rádios ganharam o direito de não mais passar a “Voz do Brasil” às sete da noite, a Gaúcha estreou um programa de nome original: “Gaúcha 19 Horas”. O escolhido pra comandar a atração foi o Brito. Animado com o desígnio, elaborou um projeto que conciliava informação, entretenimento e interatividade. Um programinha light, feito pra quem estivesse saindo da “firma” e ouvindo o rádio com a intenção de dar uma descansada. E o começo foi realmente forte, só que a empolgação durou pouco. Após um mês e meio de programa, o Brito me larga uma dessas no ar.
Eram, como ele falou, quinze pras oito da noite. O “Gaúcha 19 Horas” acabaria às oito, e, até lá, o mundo ainda daria algumas voltas. Quando fora escalado pra assumir o novo programa, o Brito aceitara de bom grado. Suas participações na Gaúcha até então se limitavam a comentários sobre Direito, à substituição de âncoras em férias e à apresentação do “Bom Dia, Segunda-Feira”, programa semanal na madrugada de domingo pra segunda que, a partir de dezembro, cedia espaço, como ainda cede, ao “Gaúcha no Carnaval”, também comandado pelo Brito. No entanto, com o início da nova empreitada, acho que o ex-promotor se sentiu um “tapa-buraco” na rádio. Eram pouco mais de quinze pras oito. E, citando o nome do programa pra, na real, referir-se a si mesmo, soltou mais essa aí.
Se, na primeira, ainda poderia ser um rompante único, com essa aí o ouvinte não teve dúvida. Havia algo de errado no ar (hãn, hãn? Infame, eu sei). Assim como no ar também estava o programa, que não podia terminar bem. E, de fato, foi isso que aconteceu. O fim teve cara de fim. Quando da obtenção, pelas emissoras de rádio, da liberdade de transmitir a “Voz do Brasil” no horário que achassem oportuno, o Brito fora um dos que colaboraram para tal trunfo, em função de sua experiência jurídica. Essa, pois, é uma das explicações pro que se deu no final do programa, que será ouvido agora. As outras não sei, ficam na imaginação de cada um. Por conta da “magia do rádio” (by LL).
Ao som de “As rosas não falam”, do sempre adequado Cartola, o Brito se despedia com plena consciência do arriscado passo que estava dando. Tanto que, como expressa em sua fala, nem tinha certeza se ficaria no emprego. Até ficou, mas só voltou à emissora após dez dias de geladeira.
terça-feira, 1 de abril de 2008
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3 comentários:
Muito legal o uso do áudio. Texto bom de ler e informação interessante (para dizer o mínimo). Hilário o moço.
muito legal o texto! E eu achei que esse cara não ia durar lá...
Faço minhas as palavras da Clarice! O uso do áudio deu uma quebrada legal no texto (que também é ótimo).
Muito bom de ler. Parabéns!
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