quarta-feira, 2 de abril de 2008

Fatos que vão marcar a história

Quem é o pai de Isabella? - Um post de muitas perguntas
A capa do G1 de hoje, às 23h, era: Juiz decreta prisão do pai e da madrasta de Isabella. O fato também foi manchete do Jornal da Globo. Não há distorção do fato: um juiz realmente decretou a prisão do pai da garota jogada do sexto andar. O crime é um absurdo, salta sos olhos, obedece critérios clássicos que uma notícia deve ter. Mas, mesmo que sendo um fato, uma verdade, mesmo que o pai seja assassino, o que isso faz de diferença para a opinião pública? (E essa não é uma pergunta retórica, é apenas uma pergunta que eu não tenho resposta.) E para ele? Esse holofote chamado jornalismo, que fica em cima dos acontecimentos, muda algo para o pai da criança? Noticiar a vida das pessoas muda a vida das pessoas? (E agora, sim, perguntas retóricas.)
Saber quem é o assassino de um crime pouco mudará a minha vida. É algo quase tão banal quanto saber quem é o novo namorado da Adriane Galisteu. Mas e a vida do assassino? O quanto muda?

5 comentários:

Juliana Wecki disse...

em algum momento acho até que concordo contigo... essa supervalorização de notícias desse tipo muitas vezes, em vez de ajudar, atrapalha a apuração das provas e atrasam as investigações.
Talvez não mude a nossa vida saber se o pai de Isabelle foi o culpado pela morte da menina. Da mesma maneira que não dizia a nosso respeito saber do julgamento de Suzane Richtofen (nem sei se escreve assim o nome dela!!). Mas essas notícias servem (numa primeira análise, beeem rasa) pelo menos para nos mostrar que se o pai da menina é realmente o culpado, ele pode ser um perigo para seus outros filhos.

Talvez isso realmente não seja tão importante para o resto das pessoas. Mas garante nosso emprego! hehehe

Curiosa disse...

[análise de mesa de bar] É a tal tendência a dramatizar os fatos, o chamado "showrnalismo", que dá título a um livro do José Arbex que eu nunca li. Os dramas individuais são sempre mais "televisionáveis". É tudo culpa do narcisiiiismo da sociedade pós-moderna, como diria a Clary. hehe
Enfim, piadas prontas à parte, a questão central, na verdade, não é que essa notícia não muda nossas vidas, e sim que há outras coisas acontecendo que afetam muito nossas vidas que desconhecemos. [Coloque aqui tudo o que você sabe sobre a Escola de Frankfurt] [Comentário fatalista-para-fechar-com-chave-de-ouro ][/análise de mesa de bar] (Esse troço não aceitou minhas tags estilosas, por isso usei colchetes.)

Clarice disse...

Serei mais clássica. Acho que tem a ver com sensacionalismo, sim, mas também com arquétipos ancestrais sobre infanticídio e violência, a renovação atual de mitos sobre pais que matam filhos e filhos que matam pais. Porque essa é uma dimensão simbólica da relação (um filho precisa "matar" dentro de si a imagem idealizada do pai para tornar-se adulto) que não pode, no entanto, se concretizar - é tabu. Tem outro ingrediente: a figura da madrasta, outro arquétipo que dispensa apresentações. E tem, falando do ponto de vista jornalístico, uma apuração malfeita , que come pela boca de uma polícia incompetente e deslumbrada, e que investe em reportagem declarativa, e não investigativa. Então: faz diferença sim, porque na verdade, ao falar deste caso, estamos falando de medos e tabus ancestrais, e de forma mais concreta, de um problema social grave (a agressão de filhos ou crianças por pais ou adultos). Mas da forma como está sendo veiculada na maioria dos veículos, a notícia fica só num factual declarativo, não evolui sequer para investigação, que dirá para contextualização. Horrível. E tem gente dizendo que pode ser até um nova Escola Base.
Acho que fiz uma salada neste comentário, enfim...

ViníciusSilvaFrança disse...

olha, eu vou ter que concordar com a piada da ana lúcia: os dramas individuais são sempre mais "televisionáveis".

Na verdade, a editoria de polícia é a que eu mais gosto de ler, pq é sempre tão cheia de personagens. As matérias têm sempre um quê de estorinha - sem querer desmerecer a editoria, ou fazer qualquer outro juízo de valor. talvez seja isso, mesmo, clarice. talvez os "arquétipos ancestrais" sejam mesmo uma delícia de se ler.

Anônimo disse...

Querido,pai matar filho e filho matar pai é coisa velhíssima - vide Édipo